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Foto do escritorMariana Rattes

"Palhaças, Bem Vindas Sois Vós", uma conversa com Felícia de Castro


Felícia de Castro é mãe, atriz, palhaça, criadora e pesquisadora da arte-ritual, dos cantos, danças e imaginários das culturas brasileiras, e da palhaçaria pessoal alinhada ao sagrado feminino. Mestra em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia e iniciada na arte da palhaçaria em 1999 pelo Lume Teatro. Nessa conversa, ela conta um pouco mais sobre a Vivência "Palhaças, Bem Vindas Sois Vós", que é um estudo prático da comicidade feminina, uma pesquisa desenvolvida por ela, que promove uma formação anual na cidade de Salvador/BA há dez anos e que dará um workshop pela primeira vez, no Rio de Janeiro, nos dias 11 e 12 de março de 2017.


O que é o workshop "Palhaças, Bem vinda sois vós" e como ele nasceu?

FELÍCIA- Palhaças, Bem Vindas Sois Vós é uma roda de amor que funciona como um suporte acolhedor para lidar com os tocantes desafios de desarmar-se e de expor a si mesma, que regem a arte da palhaçaria. Mergulhar no contato com nossa criança, no nosso profundo feminino e na descoberta da palhaça que é uma dilatação de nossa essência. É uma jornada que tem promovido transformações curativas.

O curso nasceu há dez anos, num momento em que Salvador tinham muitas mulheres buscando a palhaçaria, e eu era ainda uma das poucas referências de mulher-palhaça na cidade. Então meu companheiro do grupo Palhaços para Sempre, o palhaço Demian Reis, me sugeriu que eu fizesse um trabalho para estas mulheres. Era inicialmente apenas para palhaças atuantes ou que já tivessem recebido algum curso anterior, mas reunir mulheres para mergulhar na libertação que vem da comicidade, foi de uma força tão apoteótica, que o trabalho foi se mostrando muito mais abrangente e necessário. Embora eu sempre deixe claro que o foco do trabalho é artístico, não terapêutico, é inevitável a consequência em autoconhecimento e crescimento pessoal. Também porque a arte que pratico é inseparável da cura e do ritual.


De que forma essa vivência pode beneficiar as mulheres, enriquecer suas vidas e seu processo de crescimento como mulher?

FELÍCIA-Eu vejo a palhaçaria como amor e transbordamento de humanidade e isto é altamente revolucionário levando em consideração o contexto hostil que estamos vivendo hoje. O trabalho passa, entre outras coisas, por ter coragem de tocar nossa própria vulnerabilidade e conseguir estabelecer uma conexão verdadeira com o outro. Percebo que para a mulher, aceitar-se imperfeita, e entrar em contato com o ridículo e o estranho, é regenerador. Essa é a liberação de um riso que está ligado à natureza e à sexualidade, gera uma força criativa muito grande, e há um impacto desta força na vida.


É preciso ter alguma experiência para participar? Ao se inscrever na vivência, o que será esperado da participante?

FELÍCIA-Não é necessário ter feito cursos de palhaçaria ou teatro para participar da Vivência. A pesquisadora brincante Lydia Hortélio, fala que ‘’antes de mais nada é preciso ser feliz, é preciso brincar para afirmar a vida’’. Acho que este desejo de ser feliz e de brincar é tudo que precisamos para estarmos vivos. É o que perdemos e é o que nos conecta de volta. A dica é confiança, entrega, e vir com muita disposição para dançar intensamente e mergulhar em si mesma.


Qual foi a maior transformação que você testemunhou a partir desse trabalho?O que te faz mantê-lo vivo?

FELÍCIA- É um trabalho que me proporciona testemunhar processos muito importantes, de vida e de crescimentos muito tocantes. Uma história muito marcante foi a de uma participante que estava em tratamento para depressão há sete anos, fazendo uso de medicamentos, psicoterapia, psiquiatria, mas que não davam resultados satisfatórios. Ela participou do curso e renasceu, segundo palavras dela mesma. Reconectou-se com ela, com sua essência, descobriu uma nova forma de viver, de ver a vida e o papel dela mesma nisso tudo, mudou rumos profissionais e se curou. Três meses depois me mostrou exames de hormônios, que antes estavam completamente alterados, e que tinham ficado normais. E um ano depois se livrou de todas as medicações para a depressão por orientação do médico que concluiu que ela tinha superado essa fase. Incrível. Fico emocionada de relembrar.

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