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Foto do escritorMariana Rattes

CICLO DE CONTEÚDOS 1: O Apolíneo e o Dionisíaco como Caminho de Integração Para a Vida.

Atualizado: 10 de mar. de 2020

Hoje começo aqui no Blog, na página do Facebook e no instagram @caminhosdecrescimento, o primeiro Ciclo de Conteúdo.

Esse Ciclo 1 vai acontecer em 4 movimentos. Aqui no blog vou compartilhar sempre textos mais longos e aprofundados, que englobem os principais pilares de cada movimento. Já no Instagram e no Facebook, vou compartilhar alguns trechos mais curtos, alguns outros mais longos e divididos em partes, citações e imagens inspiradoras sobre o CICLO. Também é possível receber tudo que rolou por email. Para isso, se cadastre aqui no site!



MOVIMENTO 1- COMO ESSE TEMA CHEGOU ATÉ A MIM


O trabalho de integração das polaridades está na base da Gestalt Terapia e para compreender esse processo de integração, muito me ajudou entrar em contato com a polaridade complementar entre Apolo e Dionísio, proposta por Claudio Naranjo, inspirado em Nietzsche. No livro Por uma Gestalt Viva e Para Todos, Claudio Naranjo traz a percepção do quão espiritual é a Gestalt Terapia por sua natureza integrativa. Ele explica que o trabalho da Gestalt tem aspectos em comum com as mais diversas escolas espirituais, por seu foco no equilíbrio das polaridades e na fé no fluxo organísmico.


Segundo Claudio, essa dimensão espiritual da Gestalt a torna um trabalho terapêutico buscado não apenas por pacientes que sofrem de enfermidades, mas também por todas aquelas pessoas que estão buscando crescimento pessoal e autoconhecimento.

Quando se refere a essa espiritualidade dentro da Gestalt, ele traz a percepção de que ela é metade Apolínea e metade Dionisíaca. Metade silêncio, disciplina, ordem, estudo, concentração, confrontação dos aspectos egóicos, neutralidade da persona e metade expressão, fluidez, estímulo, liberdade, abertura, “embriaguez” na própria loucura como meio de curá-la.


O Interesse por esse tema brotou em mim quando encontrei, durante a minha formação em Gestalt-Terapia, nome e explicação para a necessidade de buscar mais equilíbrio entre as minhas polaridades internas, fases e pulsões, que até então pareciam contraditórias e inconciliáveis. Movida pela necessidade de compreender melhor o que era, na teoria e na prática, o Apolíneo e o Dionisíaco dentro do trabalho pessoal, ao final da formação em Gestalt Integrativa no Instituto Gestalt de Vanguarda Claudio Naranjo, escolhi esse tema para o meu Trabalho de Conclusão de Curso.


De lá para cá, essa vem sendo uma das minhas principais pesquisas e um dos meus focos de estudo. Tanto dentro do meu próprio trabalho interno e caminho de desenvolvimento (com os retiros e vivências que escolho fazer e com acompanhamento psicoterapêutico que venho recebendo há alguns anos), como nos trabalhos que desenvolvo como Gestalt-Terapeuta, Leitora da Aura e Consteladora.



*****


Minha vida sempre se resumiu em picos e vales muito acentuados. Sei que essa é uma característica desse mundo (do Samsara como dizem os budistas), mas desde que comecei a me observar melhor, pude identificar que os meus movimentos internos e externos se resumiam a períodos radicais de SOBRIEDADE e EMBRIAGUEZ sempre excessivos, alternados e excludentes, em todos os sentidos. Na sobriedade, algo profundo e instintivo era bloqueado: a vida secava, a vitalidade se esvaia, os fluxos iam, aos poucos, sendo minados e a alegria ia também desaparecendo. Ficava presente apenas a satisfação do dever cumprido, um senso de organização, de estrutura, que trazia algum nível de segurança, mas que deixava sem carne o esqueleto. Alguns aspectos estruturais da vida caminhavam bem, é verdade, mas tudo parecia ter um peso de sustentação maior do que o necessário.


Desse lugar de vitalidade minada, uma parte incongruente saltava e se rebelava, quebrando essa estrutura aparentemente morta e sem vida. A necessidade desesperada de liberação tomava conta . Quando ela chegava a velha estrutura estrebuchava, sentia que ia morrer. Por medo de atravessar o vazio, eu usava essa energia subversiva que brotava para também me autodestruir. Ao excesso de estruturação, se seguia a desestruturação quase total e aquela possibilidade de liberação, se tornava um prazer misturado à culpa, destruidor em muitos aspectos e desestruturante em demasia.

Para compensar a desestrutura, vinha de novo a sobriedade e da sobriedade vinha a repressão e da repressão vinha o medo do vazio, a fuga, os escapes e a desestrutura novamente. E assim o ciclo vicioso ia seguindo, uma espécie de polícia e de bandido internos tornavam as fases apolíneas e dionisíacas antagônicas e perigosas uma para outra e a Mariana precisava fragmentar-se para experimentar cada aspecto dela.


Até que conheci o Eneagrama, comecei a estudar o que Claudio Naranjo ensinava e iniciei a formação em Gestalt-Terapia. Do contato com aqueles terapeutas diferentes, reais, humanos, vivazes, intensos, “filhos de deus e filhos da puta” ao mesmo tempo, fui sentindo nas minhas células uma nova possibilidade acenar no horizonte. O questionamento surgiu: “Será mesmo que preciso escolher? Entre a santa e a puta, a boa menina e a rebelde, a perfeita e a autodestrutiva? Será que existe mesmo uma forma correta de se viver, uma forma ideal, que me “salvará de todo o mal”? Será que ao não encontrar esse ideal, é necessário colocar tudo a perder e viver um prazer limitado com culpa e autodestruição?”


Fui, então, percebendo que não precisava mais ser assim, que um caminho integrativo, mais “humano”, mais de carne osso, mais real era apresentado ali. Entendi que o caminho verdadeiro da transformação não passava pela correção, orientação, “sanação”, mas sim pela aceitação plena, pela integração das partes internas, pela permissão em manifestar aquilo que se é a cada presente, pela liberação de um fluxo organísmico do ser, que é de posse de todo qualquer e indivíduo.


Nesse sentido, também encontrei um caminho para explicar meus interesses que antes pareciam tão antagônicos: a atração pelo teatro, pelas formas de expressão artística, pelos palcos, pela imagem, pela arte, pela sexualidade, pelo êxtase, pelo que está à margem e ao mesmo tempo a necessidade de paz, de contato com a natureza, de neutralidade, de desapego, de silêncio interior, de interiorização. Tudo aquilo que pareceu sempre tão contraditório e que confundia as tentativas de encontrar o caminho ideal a seguir, foi se integrando e se unindo com essa perspectiva integrativa da Gestalt de Claudio Naranjo.


Com muito trabalho interno e psicoterapêutico, de lá para cá venho vislumbrando um novo horizonte: a possibilidade de ser tudo aquilo que sou, de abrir as portas para que os mais variados aspectos e polaridades internas possam se manifestar. Tornou-se possível aprender pelo erro mas também pela neutralidade e desarticulação das neuroses, aprender pela livre expressão dos instintos, mas também pela consciência e escolhas dos preços que estou disposta e que tenho condições de pagar para viver cada situação. Soltar, liberar, extravasar, mas também conter, respirar, entrar, aprofundar, entender e aprender com o silêncio interior.


Desse modo, a INTEGRAÇÃO, vem se tornando possível no plano real, no “aqui e agora”. A explicação que Claudio Naranjo faz sobre as duas partes que compõe a Espiritualidade da Gestalt Integrativa: seus aspectos apolíneos e dionisíacos, me saltou aos olhos e me trouxe o interesse em aprofundar o tema. Entendi que ao mergulhar no universo desses dois deuses e na sua relação com o nosso mundo interno, poderia compreender melhor esse tesouro que foi para mim a possibilidade de integração daquilo que antes parecia tão distante, dual e separado.


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