Sempre deveria haver um culpado. A facilidade de se colocar a culpa em alguém, eliminando assim toda a frustração e seguindo a vida, como se só houvesse maravilhas e tesouros no caminho. E de fato acredito que, uma vez conectados com o que há de mais real no universo, conseguimos ver que só há maravilhas no caminho, inclusive nos "culpados".
Mas por que é tão difícil assumir os obstáculos como jóias? Porque é tão difícil assimilar frustrações, aceitar limitações, aceitar a sujeira dos porões internos, aceitar a sujeira do mundo, do outro, dos “culpados” por dificuldades e agruras? Caminho difícil esse da auto responsabilização por tudo que experimentamos ou, pelo menos, pela forma como experimentamos o que acontece em nossas vidas e no mundo.
Sempre parece haver tanta razão e tantas justificativas para nossas atitudes reativas. Difícil não passar a vida se contentando em escolher bodes expiatórios, em classificar o errado, em identificar o ruim, o incorreto, o imperfeito, o disforme. Coisa difícil aceitar as injustiças, o capitalismo selvagem, o abusador, o ladrão, o injusto, o hipócrita, o desumano, o superficial, o corrupto. Mais difícil ainda aceitar todos esses quando percebo que habitam dentro de mim (ou quando me desespero ao cogitar essa possibilidade). E seria por isso, porque todos esses de algum modo (a depender de como as circunstâncias externas se apresentem) vivem e habitam dentro de mim, que é tão difícil aceitar que eles possam também existir e se manisfestar fora?
De fato, seria mais fácil banir a sujeira do mundo, banir a sujeira de mim, apagar todo e qualquer resquício de imperfeição...
Mas por que não consigo? Porque todos os bandidos não são punidos? Porque os presídios estão lotados e nada de fato se resolve daí? Porque eu apresento tantos traços de superficialidade e me sinto distante e melhor que alguns, pior que outros, diferente e separada? Porque eu sinto ódio por aquele que fere aquilo que acredito ser precioso? Porque eu me entristeço e me enraiveço por não ter recebido dos meus pais aquilo que eu achava que devia ter recebido?
Porque a imperfeição incomoda? Porque um ego é formado e nos enturva a visão, nos separa, nos faz buscar o paraíso a cada atalho e não nos deixa ver que o Paraíso é o presente exatamente como ele se manifesta, podendo ser acessado com uma mudança de perspectiva? (Ufa! Como alcançar esse presente que está aqui a cada agora?)
Porque não aceito o fato de não me aceitar? Desabafo, olho, compartilho e o peito desaperta um pouquinho. São tantas perguntas. Sinto-me como uma criança. E, talvez, ainda seja. E talvez seja ela quem esteja precisando de cuidado e aceitação..
O ar volta a navegar por dentro, ao menos durante esse suspiro!
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