"(...) Porque o desejo por ordem tenta tornar o mundo humano em um reino inorgânico, onde tudo vai bem. Onde tudo funciona sujeito a uma vontade impessoal. O desejo por ordem é também o desejo por morte porque a Vida [orgânica biológica, mas também criativa] é a perpétua violação da ordem. Ou inversamente, o desejo por ordem é o pretexto virtuoso pelo qual o ódio dos homens pelos homens justifica seus crimes. "
MILAN KUNDERA - farewell Waltz.
Outro dia, ao abrir o Facebook, me deparei com essa citação no mural de um amigo e fui completamente arrebatada por ela.
Sinto ser esse o meu tema do momento: o desejo por ordem, a dificuldade em aceitar o caos, o orgânico, o incontrolável.
Tenho passado parte do meus dias buscando um planejamento, uma segurança e uma estrutura que, muitas vezes, parecem inalcançáveis. O desejo por segurança: seguro de vida, de casamento, de saúde, de proteção, de sucesso, de viagem, de bens, de carro, de família, de evolução espiritual, de avanço, de bem estar, seguro de tudo. Existe seguro de morte? Existe seguro que garanta a felicidade e a constância?
Por onde entra essa ilusão de que é possível controlar a vida, a pulsação orgânica dela?
Mais uma vez, pareço uma criança repleta de perguntas, buscando segurança, buscando respostas, sabendo que elas já existem justamente por não existirem dentro de mim. Dentro de uma quietude que já é, ainda que não seja, a cada respiro. Mas ainda persigo uma quietude idealizada (E tudo bem também, não?! Algo em mim ainda diz que não, que seria melhor ter essa quietude idealizada. Risos tensos!) Porque persigo a ordem e o controle, porque ainda é difícil aceitar o caos (Ainda? Será que algum dia não será mais?). É difícil aceitar o incontrolável,a vida nos seus jatos orgânicos pulsantes, repletos dos sabores e dissabores do real, fruto também do imaginário e idealizado.
Afinal o que é real? O caos não é, mas a ordem tão pouco.
É real aquilo que me impulsiona para mundos ainda não explorados, para a união com aquilo que cheira bem e também com aquilo que cheira mal?
A ordem flui por onde eu fluo. Mas pode também entupir, sem que eu perceba que já estou entupida há tempos.
Navego sim buscando a segurança, mas também ciente de que, logo logo, Shiva (o Senhor da Transformação) me chamará para dançar novamente e todo o controle e ordem poderão, num sopro, desaparecer.
Ainda assim, tenho gostado de perseguir a ordem. Como disse uma querida amiga e tutora dos caminhos: quem disse que a vida é apenas um jogo? Ainda que ela seja um jogo nesse mundo de Maya, de ilusões, esse jogo é muito reduzido quando colocamos esse "apenas". O Sonho não é apenas o sonho, é o sonho de uma existência, de um vagar em busca daquilo que faz pulsar o coração, que faz o azul não ser nem mais nem menos que azul, mas ainda assim ser AZUL em algum lugar dentro de nós, que faz você ser aquilo que você consegue criar de você mesmo, a cada respiro co-emergente com os respiros do mundo.
E é belo simplesmente ser, estar, como se pode, como dá. É belo, mas é feio também. Com doses de equilíbrio e desequilíbrio, com e sem ideais, como dá para ser....simples assim....ou não tão simples assim também....
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